domingo, 24 de janeiro de 2010

UM REENCONTRO PELA INTERNET - QUE ALEGRIA!!!

O poetinha tinha toda razão: "A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida..." Não é que procurando na web reencontrei Lurdinha... Maria de Lurdes Marinho, essa amiga de tantos encontros antigos e felizes e que agora se torna presente novamente na minha vida. Estou feliz de poder usufruir de novo daquele sorriso bonito que sempre foi a sua marca registrada! Os anos passaram para nós, mas o tempo fez a gentileza de deixar no seu rosto, minha amiga, o mesmo sorriso de menina... Todas as fotos que consegui de você na Internet comprovam isso.
Estou tão feliz em reencontrá-la que não caibo em mim de alegria...
Oxalá possamos nos ver ao vivo e em cores o mais breve possível!!!!

sábado, 30 de maio de 2009

O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL BRASILEIRO DA DÉCADA DE 70 IMPLÍCITO NA POESIA MARGINAL


INTRODUÇÃO

A poesia existe nos fatos.
(Oswald de Andrade)

Segundo José de Nicola em Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias (1998), o poeta, ao selecionar e combinar de maneira particular e especial as palavras, procura obter alguns elementos fundamentais da linguagem poética: “o ritmo, a sonoridade, o belo e o inusitado das imagens.”

Mas também Nicola, citando um fragmento do poema Procura de poesia, de Carlos Drummond de Andrade (NICOLA, 1998, p. 29), afirma ainda que:

O poeta nos ensina que não se faz literatura apenas falando sobre acontecimentos ou resgatando subjetivamente a infância ou idealizando. Literatura não se faz só com idéias e sentimentos: ‘O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia’. ‘Ainda não é poesia’, mas pode vir a ser. Para isso, é preciso penetrar ‘surdamente no reino das palavras’, ‘lá estão os poemas que esperam ser escritos’, Ainda não são poemas, porque ‘estão paralisados’, ‘sós e mudos, em estado de dicionário’. Pensemos: as palavras em estado de dicionário, ou seja, fora de contexto, têm apenas o sentido denotativo, frio e impessoal. Se contemplarmos as palavras atentamente, de perto, perceberemos que cada uma tem mil faces secretas (conotação) sob a face neutra (denotação).


Se juntarmos essas duas idéias iniciais, perceberemos que a matéria-prima da poesia é a palavra utilizada de forma artística, musical e que para se fazer poesia não basta apenas colocar palavras umas ao lado das outras. Segundo NICOLA, “Sem melodia e conceito as palavras se refugiam na noite. Só há canto, só há poesia, quando as palavras estão carregadas de melodia e conceito.”

Mais adiante, NICOLA explica qual é a matéria-prima do poeta, ainda citando Drummond, em seu poema Procura de poesia, publicado entre 1943 e 1945 no livro Rosa do povo, em pleno contexto da II Guerra Mundial:

Não faças versos sobre acontecimentos’ – esse primeiro verso, tomado isoladamente, permite interpretações equivocadas. Drummond não está propondo uma poesia alheia aos fatos; ele apenas reitera o trabalho com a palavra, matéria-prima do poeta. É preciso entender o poema em seu contexto histórico: o mundo estava literalmente, em decomposição – milhares de mortos, nações se esfacelando, a destruição de Hiroxima e Nagasáqui. No meio do turbilhão, como avaliar os acontecimentos, o que é efêmero, o que é permanente? A poesia pode (e deve) falar de qualquer coisa, mas o que a sustenta, o que a perpetua é o trabalho com a linguagem.


Assim, faz-se necessário salientar aqui que a perpetuação da poesia se dá, principalmente, em função do trabalho artístico com a linguagem que ela representa, mas que por trás da palavra poética há um contexto histórico no qual ela está inserida e que, segundo Afrânio Coutinho, citado por NICOLA, 1998, p. 30, “A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade”.

Nesse sentido, ainda, é preciso ressaltar que o poeta, enquanto artista literário, cria e recria um mundo de verdades que não podem ser medidas pelos padrões das verdades dos fatos. Mas segundo NICOLA, 1998, p. 30, ainda citando Afrânio Coutinho:
São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido de vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida, o qual sugere antes que esgota o quadro. A Literatura é, assim, vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana.


O que se quer enfatizar aqui é que a poesia é antes de qualquer coisa uma expressão artística e, portanto, ficcional e subjetiva, mas ela, sendo recriação do real, e amplamente conotativa, possibilita também a reflexão do leitor sobre o tempo, a história, a cultura e os valores do momento em que ela foi criada e no qual ela está, fatalmente, inserida. A poesia, portanto, tem uma função artística inerente, mas também pode ter uma função social e filosófica. O leitor do texto poético também tem que ser levado em conta, já que poesia é um trabalho artístico que é feito para ser lido. E, nessa perspectiva, assim afirma NICOLA, 1998, p. 50:

A linguagem poética explora o sentido conotativo das palavras, num contínuo trabalho de criar ou alterar o significado, já cristalizado, dessas mesmas palavras, o leitor transforma-se em leitor-ativo, em tradutor, em co-autor do texto. Para tanto, é preciso sempre estar atento ao contexto, que nos fornecerá indicações concretas para decifrar o jogo denotação/ conotação contido no texto literário.


Assim, com a permissão concedida pelo discurso de quem entende de “fazer poético”, o presente trabalho tem o objetivo maior de demonstrar, a partir de análises pessoais, calcadas em referenciais teóricos pertinentes, que nas entrelinhas dos discursos dos poetas marginais brasileiros podem-se perceber nuances da realidade histórico-cultural vivenciada pelo povo brasileiro na conturbada e prolífera década de 70.

Enfim, o ponto de vista que se pretende defender neste trabalho é o mesmo que se revela nas palavras do poeta modernista Oswald de Andrade, em epígrafe: A poesia existe nos fatos.


A POESIA BRASILEIRA ATRAVÉS DO TEMPO: das origens aos nossos dias


Se fizermos um retrocesso no tempo, em busca das origens da Literatura Brasileira, vamos nos encontrar em algum lugar do Brasil no momento do “achamento” da Terra Brasilis pelos portugueses. Esse momento é muito bem delineado na Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, conforme cita NICOLA, 1998, p. 54:

[Quarta-feira, 22 de abril] (...) E à quarta feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buchos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz.

Na mesma página, NICOLA considera:

Esse trecho da Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, (...) pode ser considerado o marco inicial da história da literatura brasileira. É certo que se trata de um texto capaz de despertar mais entusiasmo em historiadores do que em estudiosos da literatura. Também é certo que não se podem negar qualidades literárias marcantes na narrativa de Caminha.
Por outro lado, é indiscutível o fato de a Carta refletir uma visão de mundo do homem português, o que bastaria para colocá-la como maIs um texto-documento da literatura portuguesa ligada à expansão ultramarina. Mas é essa visão de mundo do homem europeu que vai dominar, com maior ou menor intensidade, nos três primeiros séculos de nossa literatura, em que o Brasil é colocado na condição de ‘objeto de uma cultura, o ‘outro’ em relação à Metrópole’, como salienta Alfredo Bosi. Só a partir do século XIX, com o Romantismo, encontramos manifestações literárias genuinamente nacionais.


Portanto, podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que o berço da Literatura Brasileira, remonta de alguns séculos antes do “achamento” do Brasil pelos portugueses e, com certeza, tem suas raízes na história do povo luso, se considerarmos, como já dissemos na introdução deste trabalho, que a literatura/ poesia de alguma forma reflete o contexto histórico em que ela é produzida. Isso se confirma nas palavras de NICOLA, 1998, p. 54:

(...) a literatura brasileira teve seu início em meio a um longo processo vivenciado por Portugal (desde o século XII), que, por sua vez, começou a se formar em meio a um longo processo vivenciado pela literatura do mundo ocidental (desde as mais remotas manifestações literárias dos gregos). Assim, no poema Caramuru, de Santa Rita Durão, há uma nítida herança camoniana, da mesma forma que em Os Lusíadas há uma nítida herança de Homero e Virgílio.


Seguindo a linha de raciocínio de NICOLA, podemos traçar, numa linha de tempo, a trajetória da poesia brasileira, desde o momento trovadoresco da Idade Média até os nossos dias, conforme ele mesmo afirma em Literatura brasileira: das origens aos nossos dias, à página 59:

(...) não faria sentido estudarmos o passado pelo passado, a partir de textos ininteligíveis, sem estabelecer qualquer relação ou vínculo com a cultura posterior. Mas, pelo contrário, se nos damos conta de que esse passado não morreu, de que a cultura trovadoresca está presente até hoje, mesmo num país como o Brasil, que não viveu diretamente a Idade Média, então esse estudo fará todo o sentido. (...)
Considerando apenas as cantigas líricas, veja alguns rápidos exemplos de como é rica a influência da cultura trovadoresca no Brasil:
• A vassalagem amorosa presente no Romantismo (século XIX) tem sua origem na idade Média (bem como a idealização da mulher e do herói). Gonçalves Dias escreveu uma cantiga de amigo indianista: ‘Leito de folhas verdes’.
• Manuel Bandeira, em pleno século XX, escreveu um “Cantar de amor” em... galego-português!
• Vários compositores da MPB escreveram (e escrevem) cantigas de amigo: Paulo Vanzolini (‘Ronda’), Chico Buarque (‘Com açúcar e com afeto’, ‘Atrás da porta’, ‘Tatuagem’, ‘Olhos nos olhos’, e muito mais), além de Gonzaguinha e Gilberto Gil, entre outros. Caetano Veloso e Juca Chaves têm músicas que são perfeitas cantigas de amor.


Mais à frente, NICOLA afirma que a literatura brasileira pode ser dividida em duas grandes eras, que acompanham a evolução política e econômica do país: a Era Colonial e a Era Nacional. Essas duas eras são separadas por um período de transição que corresponde ao período de emancipação política do Brasil. Cada uma dessas eras, apresentam subdivisões que podem ser denominadas como Estilos de época.

Na Era Colonial que vai de 1500 a 1808 temos: O Quinhentismo (de 1500 a 1601), Seiscentismo ou Barroco (de 1601 a 1768) e o Setecentismo ou Arcadismo (de 1768 a 1808). O período de transição acontece de 1808 a 1836. Na Era Nacional temos: o Romantismo (de 1836 a 1881), Realismo (de 1881 a 1893), Simbolismo (de 1839 a 1922), Modernismo (de 1922 até 1945) e o Pós-Modernismo (de 1945 até os nossos dias).
O autor descreve cada um desses períodos de forma cronológica, resumidamente, eis o que afirma o autor sobre cada um desses períodos.

O Quinhentismo Brasileiro, conforme NICOLA, 1998:

Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura européia em terras brasileiras. Ainda não podemos falar em literatura do Brasil, aquela que reflete a comovisão do homem brasileiro, e sim numa literatura no Brasil, ou seja, uma literatura ligada ao Brasil, mas que denota a cosmovisão, as ambições e as intenções do homem europeu.


O autor afirma ainda que como principais manifestações literárias do séc. XVI temos uma Literatura Informativa e uma Literatura dos Jesuítas, como principais manifestações literárias.


O Barroco:
Nicola afirma que, genericamente, o termo “barroco” denomina todas as manifestações artísticas dos anos 1600 e início dos anos 1700. O barroco além da literatura, engloba à música, as artes plásticas e a arquitetura da época. Ele faz um breve resumo do Barroco no Brasil, na página 87.

No Brasil, o Barroco tem seu marco inicial em 1601 coma publicação do poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira, que introduz definitivamente o modelo da poesia camoniana em nossa literatura,. Estende-se por todo o séc XVII e início do século XVIII. O final do Barroco brasileiro só se concretiza em 1768, com a fundação da Arcádia Ultramarina e com a publicação do livro Obras, de Cláudio Manuel da Costa. No entanto, já a partir de 1724, com a fundação da Academia Brasílica dos Esquecidos, o movimento academicista ganha corpo, assinalando a decadência dos valores defendidos pelo Barroco e a ascensão do movimento árcade.



NICOLA nos explica ainda que todo o rebuscamento que aflora na arte barroca é o reflexo do conflito entre o terreno e o celestial, O homem e Deus (antropocentrismo e teocentrismo), o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo renascentista, o material e o espiritual. O autor diz que esses dilemas atormentavam o homem do séc XVII.
Dois estilos podem ser notados na literatura barroca: O Cultismo e o Conceptismo, NICOLA explica melhor esses dois estilos, na página 90.

Cultismo – é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do poeta espanhol Luís de Gôngora; daí o estilo ser conhecido por Gongorismo.
Conceptismo - é marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. Um dos principais cultores do Conceptismo foi o espanhol Quevedo, do qual deriva o termo Quevedismo.


O Arcadismo:

O Arcadismo (a estética dos anos 1700) segundo NICOLA é o período que caracteriza principalmente a segunda metade do séc. XVIII, “tingindo as artes de uma nova tonalidade burguesa” Nesse momento vive-se o Século das Luzes, O Iluminismo burguês, que prepara o caminho para a Revolução Francesa.
Na página 107 do livro Literatura brasileira: das origens aos nossos dias, o autor explica o Arcadismo no Brasil.

No Brasil, considera-se, como data inicial do Arcadismo o ano de 1768, em que ocorrem dois fatos marcantes: a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, e a publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa. A escola Setecentista desenvolveu-se até 1808, com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, a qual, com suas medidas político-administrativas, permite a introdução do pensamento pré-romântico no Brasil.


Segundo o autor, os modelos seguidos pelo Arcadismo são os clássicos greco-latinos e os renascentistas, a mitologia pagã é retomada como elemento estético. Mais à frente do livro, à página 111, NICOLA descreve as características do Arcadismo.

(...) Os árcades voltam-se para a natureza em busca de uma vida simples, bucólica, pastoril. É a procura do lócus amoenus, de um refúgio ameno em oposição aos centros urbanos monárquicos; a luta do burguês culto contra a aristocracia se manifesta nessa busca da natureza. Mas é preciso salientar que esse objetivo configurava apenas um estado de espírito, uma posição política e ideológica, uma vez que todos os árcades viviam em centros urbanos e, burgueses que eram, lá estavam seus interesses econômicos. Havia, portanto, uma contradição entre a realidade do progresso urbano e o mundo bucólico por eles idealizado. Por isso se justifica falar em fingimento poético no Arcadismo, fato que transparece no uso de pseudônimos pastoris. São exemplos o pobre pastor Dirceu, pseudônimo adotado pelo Dr. Tomás Antônio Gonzaga, e o guardador de rebanhos Glauceste Satúrnio, pseudônimo do Dr. Cláudio Manuel da Costa.



As características do Arcadismo em Portugal e no Brasil seguem a linha européia segundo Nicola, quanto aos aspectos formais, ele nos diz que encontramos: o soneto, os versos decassílabos, a rima opinativa e a tradição da poesia épica.

O Romantismo:

O Romantismo inicia-se no Brasil em 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica, na França, a Niterói – revista brasiliense e lança um livro de poesias intitulado Suspiros poéticos e saudades, os conceitos românticos são introduzidos no Brasil em pleno período regencial, ainda sob o impacto da abdicação de D. Pedro I. Isso é explicado por NICOLA, 1998, p.125.

O romantismo brasileiro, considerado por vários historiadores como o verdadeiro início de uma literatura nacional, está intimamente ligado a todo o processo de independência política, Em 1822, D. Pedro I havia concretizado um anseio que se fazia sentir nas últimas décadas: a independência do Brasil. A partir desse momento, o novo país necessitava ajustar-se aos padrões de modernidade da época, acompanhando as nações independentes da Europa e da América. Havia a necessidade de auto-afirmação da Pátria que se formava; a imagem do português conquistador deveria ser varrida. O ciclo da mineração tinha dado condições para que as famílias mais abastadas mandassem seus filhos à Europa, em particular a França e à Inglaterra, com propósito de buscar no modelo europeu soluções para os problemas brasileiros(...).



O autor nos diz que para entender as características do Romantismo é preciso entender que esse estilo de época é delimitado no tempo, ou seja, é um período que se inicia nos últimos anos do séc. XVIII e se estende até meados do séc. XIX. Isso faz com que suas características sejam praticamente opostas em seu inicio e no final. Assim nos explica NICOLA, 1998, p. 130.

(...) Inicialmente, romântico era tudo aquilo que se opunha ao clássico. Os modelos da Antiguidade Clássica são então substituídos pelos da Idade Média (notadamente de seus últimos séculos, que coincidem com o surgimento da burguesia) ; a uma arte de caráter erudito e nobre opõe-se a uma de caráter popular, que valoriza o folclórico e o nacional; o individuo passa a ser o centro das atenções, voltando-se para a imaginação e para os sentimentos, do que resulta uma interpretação subjetiva da realidade(...)
(...) Já no final do Romantismo, notadamente na década de 1860, desenvolve-se uma literatura de caráter mais social, a partir das transformações econômicas, políticas e sociais que atingem toda a Europa. No Brasil a luta abolicionista, a guerra do Paraguai e o ideal republicano resultam na poesia social de Castro Alves. No fundo era uma transição para o Realismo (...)



No aspecto formal, Nicola afirma que a literatura romântica se desvincula completamente dos padrões e normas estéticas do Classicismo. O verso livre, sem métrica e o verso branco, sem rima, caracterizam a poesia romântica.

O Realismo:

O Realismo surge em oposição aos ideais românticos que caracterizaram a segunda metade do séc. XIX. As profundas transformações vividas pela sociedade exigiam uma nova postura diante da realidade. Não havia mais espaço para as exageradas idealizações românticas.
Abaixo é apresentado o momento em que teve início o realismo no Brasil, por NICOLA, 1998, p.177.

Considera-se 1881 como ano inaugural do Realismo no Brasil. De fato, esse foi um ano fértil para à literatura brasileira, com a publicação dos romances fundamentais, que modificaram o curso de nossas letras: O mulato, de Aluísio Azevedo, considerado o primeiro romance naturalista brasileiro; e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o primeiro romance realista de nossa literatura.


NICOLA, para o explicar o Realismo, usa uma citação de Fidelino de Figueiredo, que nos ajuda a esclarecer esse Estilo de época.

É de todos os tempos o realismo como é a arte. Ele existiu sempre, porque a imaginação tem necessariamente por bases a observação e a experiência, e porque a arte tem sempre por objeto as realidades da vida. Na observação da vida, com o propósito de fazer arte, há duas atitudes extremas: a da franca subjetividade e a dum ardente desejo de impassível objetividade. Essas duas atitudes de espírito do artista coexistem, mas como que se deseiam, tendo o predomínio ora uma, ora outra. O artista, que observa, altera, corrige a realidade, porque não só reproduz um fragmento da vida, escolhido já de acordo com as suas inclinações pessoais, mas também o reproduz tal como o viu, isto é, desfigurado. E assim, através da concepção a verdade real deforma-se para se tornar em verdade artística.

O Simbolismo:

O Simbolismo representa, na Europa, a estética literária que se opõe às propostas do Realismo. No Brasil segundo Nicola, o simbolismo começa em 1893, com a publicação de dois livros: Missal (prosa) e Broquéis (poesia), ambos de Cruz e Souza. Estende-se até o ano de 1922, data da semana de arte moderna. NICOLA, à página 215 de seu livro usa uma citação Arnold Hauser, para explicar o Simbolismo:
O simbolismo representa por um lado, o resultado final da evolução iniciada pelo Romantismo, isto é, pela descoberta da metáfora, célula germinada da poesia e que conduziu à riqueza do imaginário impressionista (...). Na realidade, o simbolismo pode considerar-se a reação contra toda poesia anterior; descobre qualquer coisa que ou nunca se conhecera ou a que nunca até aí se dera relevo: a poesia pura – a poesia que surge do espírito irracional, não conceptual, da linguagem, que é contrária a toda interpretação lógica. (...).


O MODERNISMO – PRIMEIRA E SEGUNDA FASES

Nicola define à primeira fase do modernismo na página 290 de seu livro.

Realizada a Semana de Arte Moderna e ainda sob os ecos das vaias e gritarias, tem inicio a primeira fase modernista, que se estende de 1922 a 1930, caracterizada pela tentativa de definir e marcar posições. Constitui, portanto, um período rico em manifestos e revistas de vida efêmera: são grupos em busca de definição.


O autor nos conta que o período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento modernista, devido a necessidade de definição e do rompimento com todas as estruturas do passado. “Daí o caráter anárquico dessa primeira fase e seu forte sentido destruidor” definição de Mario de Andrade.
De 1930 a 1945, o movimento modernista vive uma segunda fase, que reflete as transformações porque haviam passado o Brasil que inaugurava uma outra etapa de sua vida republicana. NICOLA nos explica essa segunda fase na página 327 de seu livro.
A poesia da segunda fase do Modernismo representa um amadurecimento e um aprofundamento das conquistas da geração de 1922: é possível perceber a influencia exercida por Mário e Oswald de Andrade sobre os jovens que iniciaram sua produção poética após a realização da Semana. Lembramos, a propósito, que Carlos Drummond de Andrade dedicou seu livro de estréia, Alguma Poesia (1930), a Mario de Andrade. Murilo Mendes, com seu livro História do Brasil, seguiu a trilha aberta por Oswald, representando nossa história com muito humor e ironia (...).


Pós-Modernismo:

Em 1945, com o fim da ditadura de Getúlio Vargas, tem início a redemocratização do Brasil , convocam-se eleições gerais, os candidatos apresentam-se, todos os partidos são legalizados, logo depois , inicia-se um novo tempo de perseguições políticas , ilegalidades, exílios. NICOLA afirma que também a literatura passa por profundas alterações, surgem manifestações que representam muitos passos adiante e, outras, um retrocesso. “O tempo, excelente crítico literário, encarrega-se da seleção”.
A partir de 1945 uma geração de poetas que se opõe às conquistas e inovações dos modernistas de 1922 começa a aparecer, NICOLA cita um trecho da nova proposta defendida por esses poetas, inicialmente defendida pela revista Orfeu, cujo primeiro exemplar, lançado na primavera de 1947 afirma: “uma geração só começa a existir no dia em que não acredita nos que a precederam, e só existe realmente no dia em que deixam de acreditar nela.”
AS VANGUARDAS POÉTICAS

As décadas de 50 e 60, acompanham o progresso de uma civilização tecnológica e responde às exigências de uma sociedade impelida pela velocidade das transformações e pela necessidade de uma comunicação que também acompanhe essa velocidade, assim, nessa época, assiste-se ao lançamento de tendências poéticas caracterizadas por inovação formal, maior proximidade com outras manifestações artísticas e negação do verso tradicional. Procura-se, assim, o “poema-produto: objeto útil”. (NICOLA, 1998, p. 400).
Essa tendência poética, denominada poesia concreta, foi lançada oficialmente em 1956, com a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Os três poetas que iniciaram essas experiências concretistas eram: Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos,

PRODUÇÕES CONTEMPORÂNEAS

O que NICOLA, 1998, p. 403 chama de produções contemporâneas são obras e movimentos surgidos nas últimas décadas (do século XX) e que refletem um momento histórico caracterizado pelo autoritarismo, por uma rígida censura e enraizada autocensura, só amenizados a partir de meados da década de 80, quando se iniciou uma progressiva normalização da vida democrática no país.
Verifica-se, principalmente na década de 70 duas constantes na poesia: o aprofundamento da reflexão sobre a realidade e a busca de novas formas de expressão. Mantendo a tradição da poesia discursiva, temos a permanência de nomes consagrados como João Cabral, Adélia Prado, Mário Quintana, Ferreira Gullar e José Paulo Paes, ao lado de novos poetas que procuram aparar arestas com suas produções. NICOLA, 1998, p. 404.

Ainda segundo NICOLA, à página 404: Deve-se salientar ainda, a importância da poesia marginal, que se desenvolve foras dos grandes esquemas industriais e comerciais de produção de livros.



BIBLIOGRAFIA
NICOLA, José de. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 1998.

sei lá

o 1º.